Eu estava sentada no banco da
praça, sentindo a brisa bater em meus cabelos e arrepiar minha pele. Os
pássaros cantavam, as pessoas conversavam, iam de um lado para o outro, mas eu
ainda sentia-me sozinha.
Sentia saudade de algo que nunca
tive. Um sentimento estranho. O carinho depois de um dia cansativo, um sorriso
após a piada sem graça que você fez, um abraço apertado depois daquela decepção
na faculdade. Você.
Sacudi a cabeça como se negasse
estes pensamentos. Levantei e fui caminhando em direção ao cinema, quem sabe lá
eu conseguiria me distrair. De você. Comprei o ingresso, a pipoca e sentei na
poltrona mais próxima da porta. Nem lembro qual filme estava passando, não
conseguia me concentrar na tela. Aquelas lembranças – que nunca existiram – não
paravam de perambular na minha mente. Por quê? Por que você não me ligou? Por
que marcou de me encontrar e não apareceu? Eu esperei e fiquei imaginando como
seríamos juntos. Achei que você seria o cara certo para mim, com sua camisa xadrez
amassada, sua barba por fazer e seu sorriso maroto. Nunca mais vou esquecer,
mesmo querendo, acho que não consigo.
Foi injusto de sua parte. Você
não deveria ter sorrido para mim daquele jeito, ter me abraçado daquela
maneira. Neste momento eu estou te odiando, ou tentando. E o filme já acabou. Andei
em direção à porta do cinema, de cabeça baixa, ainda pensando em como fazer
para te odiar e depois te esquecer. Esbarrei em alguém. Na pessoa que eu não
queria ver nunca mais, ou na verdade eu quisesse muito ter a oportunidade de
ver novamente, pelo menos uma vez. E aconteceu. Você sorriu aquele sorriso
bobo, sem jeito, passou a mão no cabelo e falou um “oi” tímido. Tudo isso numa
fração de segundos, enquanto eu ficava parada e perplexa. Por que logo agora
que eu estava tentando deixar isso no passado? Injusto, de novo.
- Oi. – eu respondi tão baixo que
ele chegou a arquear a sobrancelha como se estivesse em dúvida.
- Como você tá? Eu ia te ligar...
- Mas não ligou.
- Sim, eu sei. Desculpa. Eu queria
ligar, mas não achei apropriado.
- Como não? – falávamos baixinho,
como se fosse um segredo.
- Eu achei injusto te ligar,
dizer o quanto eu tinha adorado te conhecer e o quanto eu gostaria de te ver
novamente, o mais rápido possível, mas eu estava namorando outra garota.
Silenciei. Olhei para baixo.
- Eu estava tentando terminar meu
namoro há um bom tempo, mas ela insistia, chorava, e eu não sabia como reagir.
Não gosto de magoar as pessoas. – Ele continuou dizendo, quase tropeçando nas
palavras.
Levantei o olhar e tentei
encará-lo.
- Você me magoou.
- Eu sei. – Ele balbuciou.
- Então? O que será agora? A
gente se encontrou aqui, você me contou os motivos de não ter retornado as
ligações... Conseguiu resolver seus problemas ou ainda continua tudo do mesmo
jeito? Tá gostando de alguém? Ainda sente algo por mim? Se é que você teve
tempo... – Não queria nem saber se estava exagerando, era o que eu estava
sentindo e já estava cansada de ficar guardando tudo para mim.
- Eu gosto de você. Gostei de ti
logo que a gente se esbarrou naquela festa. A gente se divertiu tanto, foi tão
bom... Como eu poderia esquecer? – Disse ele com um leve sorriso. Aquele
sorriso que eu adoro. – E eu terminei o namoro sim, estava esperando a gente se
ver de novo, não queria ligar, queria que fosse assim, cara a cara.
- E?
Mal terminei de falar e ele já
estava com o rosto quase no meu. Mais uma fração de segundos que pareceu
eterna. Respirei fundo e fechei os olhos. Beijamos-nos. Um beijo calmo,
sincero, repleto de carinho. Quase como o nosso primeiro beijo, mas desta vez
sem culpa, sem promessas, simplesmente aconteceu.
Senti como se estivesse no lugar
certo e na hora certa. O abraço dele era tão intenso e sincero. Eu me sentia
bem e não me importava com o que as pessoas estavam pensando. Então o beijo
terminou. Ele olhou nos meus olhos e sorriu. Meu sorriso foi automático e
recíproco. Não pude impedir. Meu corpo estava me traindo. Eu o abracei forte.
Epílogo.
Desde então os dias têm sido
assim. Suaves. Às vezes discutimos, mas sabemos muito bem como fazer as pazes,
como sorrir novamente e como preparar um bom brigadeiro de panela para assistir
aquele filme antigo enquanto estamos enrolados no edredom.
