20 de mai. de 2013

Devaneios.

Eu estava sentada no banco da praça, sentindo a brisa bater em meus cabelos e arrepiar minha pele. Os pássaros cantavam, as pessoas conversavam, iam de um lado para o outro, mas eu ainda sentia-me sozinha.

Sentia saudade de algo que nunca tive. Um sentimento estranho. O carinho depois de um dia cansativo, um sorriso após a piada sem graça que você fez, um abraço apertado depois daquela decepção na faculdade. Você.

Sacudi a cabeça como se negasse estes pensamentos. Levantei e fui caminhando em direção ao cinema, quem sabe lá eu conseguiria me distrair. De você. Comprei o ingresso, a pipoca e sentei na poltrona mais próxima da porta. Nem lembro qual filme estava passando, não conseguia me concentrar na tela. Aquelas lembranças – que nunca existiram – não paravam de perambular na minha mente. Por quê? Por que você não me ligou? Por que marcou de me encontrar e não apareceu? Eu esperei e fiquei imaginando como seríamos juntos. Achei que você seria o cara certo para mim, com sua camisa xadrez amassada, sua barba por fazer e seu sorriso maroto. Nunca mais vou esquecer, mesmo querendo, acho que não consigo.

Foi injusto de sua parte. Você não deveria ter sorrido para mim daquele jeito, ter me abraçado daquela maneira. Neste momento eu estou te odiando, ou tentando. E o filme já acabou. Andei em direção à porta do cinema, de cabeça baixa, ainda pensando em como fazer para te odiar e depois te esquecer. Esbarrei em alguém. Na pessoa que eu não queria ver nunca mais, ou na verdade eu quisesse muito ter a oportunidade de ver novamente, pelo menos uma vez. E aconteceu. Você sorriu aquele sorriso bobo, sem jeito, passou a mão no cabelo e falou um “oi” tímido. Tudo isso numa fração de segundos, enquanto eu ficava parada e perplexa. Por que logo agora que eu estava tentando deixar isso no passado? Injusto, de novo.

- Oi. – eu respondi tão baixo que ele chegou a arquear a sobrancelha como se estivesse em dúvida.

- Como você tá? Eu ia te ligar...

- Mas não ligou.

- Sim, eu sei. Desculpa. Eu queria ligar, mas não achei apropriado.

- Como não? – falávamos baixinho, como se fosse um segredo.

- Eu achei injusto te ligar, dizer o quanto eu tinha adorado te conhecer e o quanto eu gostaria de te ver novamente, o mais rápido possível, mas eu estava namorando outra garota.

Silenciei. Olhei para baixo.

- Eu estava tentando terminar meu namoro há um bom tempo, mas ela insistia, chorava, e eu não sabia como reagir. Não gosto de magoar as pessoas. – Ele continuou dizendo, quase tropeçando nas palavras.

Levantei o olhar e tentei encará-lo.

- Você me magoou.

- Eu sei. – Ele balbuciou.

- Então? O que será agora? A gente se encontrou aqui, você me contou os motivos de não ter retornado as ligações... Conseguiu resolver seus problemas ou ainda continua tudo do mesmo jeito? Tá gostando de alguém? Ainda sente algo por mim? Se é que você teve tempo... – Não queria nem saber se estava exagerando, era o que eu estava sentindo e já estava cansada de ficar guardando tudo para mim.

- Eu gosto de você. Gostei de ti logo que a gente se esbarrou naquela festa. A gente se divertiu tanto, foi tão bom... Como eu poderia esquecer? – Disse ele com um leve sorriso. Aquele sorriso que eu adoro. – E eu terminei o namoro sim, estava esperando a gente se ver de novo, não queria ligar, queria que fosse assim, cara a cara.

- E?

Mal terminei de falar e ele já estava com o rosto quase no meu. Mais uma fração de segundos que pareceu eterna. Respirei fundo e fechei os olhos. Beijamos-nos. Um beijo calmo, sincero, repleto de carinho. Quase como o nosso primeiro beijo, mas desta vez sem culpa, sem promessas, simplesmente aconteceu.

Senti como se estivesse no lugar certo e na hora certa. O abraço dele era tão intenso e sincero. Eu me sentia bem e não me importava com o que as pessoas estavam pensando. Então o beijo terminou. Ele olhou nos meus olhos e sorriu. Meu sorriso foi automático e recíproco. Não pude impedir. Meu corpo estava me traindo. Eu o abracei forte.

Epílogo.

Desde então os dias têm sido assim. Suaves. Às vezes discutimos, mas sabemos muito bem como fazer as pazes, como sorrir novamente e como preparar um bom brigadeiro de panela para assistir aquele filme antigo enquanto estamos enrolados no edredom.


12 comentários:

  1. uau *-* Como escreves bem! Gostei muito do texto, dos detalhes, as sutilezas *-* Sou péssima com narrativas e confesso que me deu até uma invejinha boa aqui hihi ^^

    Parabéns ♥

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    1. Ai, Scar! Fiquei tão feliz com teu comentário! Muito obrigada <3

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  2. Adorei o texto, às vezes imagino uma situação assim acontecendo comigo... mas sei lá... só nos devaneios mesmo rs.

    http://utopianongrata.wordpress.com/

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    1. Ah, tô na mesma, Thamyris! hahhaha
      É devaneio demais para pouca Karol, hahaha

      Beijos!!

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  3. Nossa... nem sei o que comentar sobre, muito bom!

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    1. Uau, muito obrigada Eloísa... Até me animei para escrever mais ;)

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  4. Sintoma de paixão é o pior de todos. E também o motivo de eu estar tão desequilibrado ultimamente. Pois é, meu sumiço no blog, é falta de criatividade por só pensar numa coisa só :s

    E só resta oque? Imaginar, imaginar como seria... é oque venho fazendo bastante ultimamente.

    Beijos <3'

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    1. Ahhhhh esses devaneios. Eles têm ocupado minha mente/coração o tempo todo...

      Beijos!!

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  5. Psiu, voltei de novo. Desta vez pra avisar que te indiquei prum meme lá no blog, passa lá conferir?
    Beijos <3

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    1. Oi, Kawã :D
      Já li o meme, vou deixar para responder em breve. Obrigada por me indicar :*

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